A Cirurgia da Mama e a Atuação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) no Conselho Federal de Medicina (CFM)
Alexandre Mendonça Munhoz
Atendendo a convocação emitida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e
de acordo com o ofício CFM-3260/2014 PRESI, a Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica representada pela CNRM-SBCP esteve presente na sede do CFM em Brasília
para a 2a. Sessão Plenária Extraordinária para a discussão do tema: “Técnica
Oncoplástica”.
Na presente Sessão participaram os
membros efetivos/consultores da Comissão Nacional de Reconstrução Mamária da
nossa Sociedade (CNRM-SBCP) designados pelo nosso Presidente na época, o Dr. João de
Moraes Prado Neto, quais sejam os colegas Drs. Alexandre Mendonça
Munhoz, Denis Calazans, João Carlos Sampaio Goes e Luciano Chaves.
Coordenada pelo presidente do CFM, Dr. Roberto Luiz D’Avila, a
presente reunião teve duração aproximada de 2 horas e meia e incluiu a
apresentação teórica de 1 hora e meia por parte do coordenador da CNRM Dr.
Alexandre Mendonça Munhoz, sobre a reconstrução mamária sob a ótica da nossa
SBCP, seguida pela arguição e questionamentos por parte dos conselheiros do
CFM, amplamente discutida pelos Drs. Calazans, Sampaio Goes e Luciano Chaves.
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Prof.Dr. Alexandre Mendonça Munhoz, sessão plenária do CFM em Brasília |
Como se tratava da última sessão plenária da gestão do CFM, tivemos a
oportunidade de expor nosso ponto de vista para um plenário cheio com a
totalidade dos conselheiros do CFM e inclusive com a presença e opnião do
futuro presidente do CFM, o conselheiro Carlos Vital Tavares Corrêa Lima e
o Ex-Secretário de Saúde do Distrito Federal e conselheiro do CFM Dr. Elias
Fernando Miziara.
Esta
reunião teve como objetivo principal a apresentação do ponto de vista da
cirurgia plástica no que tange a reconstrução da mama, os diferentes aspectos
da cirurgia mamária e em específico as áreas de atuação de ambas
especialidades, enfatizando a qualidade da formação do profissional. Vale
salientar que a presente reunião só se tornou possível devido ao árduo e eficaz
trabalho realizado pelo nosso Vice-Presidente Denis Calazans e
Secretário-Geral Luciano Chaves, atuais representantes da nossa
Sociedade no CFM.
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Prof.Dr. Alexandre Mendonça Munhoz, em palestra sobre tema "Reconstrução Mamária e Competências Técnicas do Cirurgião Plástico) durante a sessão plenária do Conselho Federal de Medicina (CFM) em Brasília. Alexandre Mendonça Munhoz, Cirurgia Oncoplástica, Reconstrução da Mama. |
Não menos importante merece destaque ainda o grande apoio do
nosso colega cirurgião plástico do Tocantins e conselheiro e coordenador da
Câmara Técnica do CFM, Dr. Pedro Eduardo Nader Ferreira e dos demais membros da Câmara Técnica de
Cirurgia Plástica do CFM, os Drs. Ognev Cosak, Lydia Massako, Wanda
Elizabeth, Carlos Jaimovitch, José Tariki e José Horácio Aboudib.
De maneira geral, na exposição teórica foram abordados os seguintes
temas já abordados em reuniões prévias e publicadas no Plastikós:
I. Papel atual do cirurgião plástico na cirurgia
oncológica da mama (reconstrução na cirurgia conservadora, radical, cirurgias
redutoras de risco e reconstruções torácicas), enfatizando os benefícios do
procedimento e a crucial necessidade de formação plena, bases sólidas de
cirurgia geral, aprimoramento e senso estético além de completo entendimento de
procedimentos de alta complexidade.
II. Prevalência da reconstrução imediata da mama no mundo e no nosso
meio e os fatores preditivos relacionados a maior ou menor indicação da
reconstrução. Tal argumento se contrapôs a dados mencionados por mastologistas
na Sessão Plenária prévia que enfatizaram a baixíssima prevalência de
reconstrução em nosso meio, com taxas próximas a 2,5%, e em todas as regiões do
Brasil. Atribuiu-se este fato ao baixo número de profissionais afeitos e
disponíveis para a reconstrução e desta forma a necessidade de treinamento de
mastologistas para a reconstrução. Em diversas reuniões realizadas na CNRM já
havíamos entendido que a indicação da reconstrução é multifatorial e decorrente
de outros fatores além do número de profissionais com experiência em
reconstrução, mesmo em países desenvolvidos e com mais recursos em termos de
saúde pública.
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Sessão plenária do CFM, com exposição do Dr. Alexandre Mendonça Munhoz, |
De fato, de acordo com levantamentos realizados nos EUA (ASPS
Database-2012 e 2013), há uma grande variação nacional na indicação da
reconstrução mamária. Consoante informações do National Cancer Institute USA
(NCI) em 2012 foram diagnosticados aproximadamente 212 mil casos de câncer de
mama nos EUA e, no mesmo ano, foram contabilizados 97 mil reconstruções
mamárias (incluindo neste número reconstruções tardias e reoperações). Desta
forma nos EUA, menos de ¼ das pacientes fazem a reconstrução imediata da mama,
isto em um cenário com mais recursos e informação quando comparado ao nosso. De
fato, estudos realizados pela Universidade de Michigan (Alderman et al. JAMA 2006) mostram grandes discrepâncias
regionais com taxas de reconstrução imediata que variam de 4,5% (Alaska) e
37,5% (Atlanta). Assim, são outros
fatores e não apenas o número de profissionais que explicam o baixo número de
reconstruções.
“Em diversas reuniões
realizadas na CNRM já havíamos entendido que a indicação da reconstrução é
multifatorial e decorrente de outros fatores além do número de profissionais, O
mesmo cenário é observado em países desenvolvidos e com mais recursos em termos
de saúde pública que o nosso” Alexandre Munhoz, coordenador da CNRM-SBCP.
Fatores como idade, presença de doenças clínicas associadas,
obesidade, estadiamento tumoral e informações sobre o tema também estão
relacionados com a maior ou menor indicação da reconstrução e estão consoantes
à séries clínicas descritas (Christian et al., Ann Surg Oncol 2006). Neste último estudo, envolvendo 8 centros
terciários de câncer de mama americanos, demonstraram taxas de reconstrução
próximas a 40%. De modo semelhante e avaliando centros acadêmicos e/ou
terciários em nosso meio que prestam atendimento SUS apresentam taxas de reconstrução
próximas a países desenvolvidos e próximas a 45% (Hospital Pérola Byngton,
ICESP-FMUSP, UERJ).
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Prof.Dr. Alexandre Mendonça Munhoz, durante a palestra sobre tema "Reconstrução Mamária e Competências Técnicas do Cirurgião Plástico" na sessão plenária do Conselho Federal de Medicina (CFM) em Brasília. Alexandre Mendonça Munhoz, Cirurgia Oncoplástica, Reconstrução da Mama. |
III. Importância do atendimento multi-profissional no câncer de mama. Apesar de
consagrado o saudável conceito da multi-disciplinaridade, foi enfatizado na
apresentação que temos observado mudanças de postura em relação a cirurgia
plástica e, sobretudo em ações éticas defendidas pela SBCP as quais valorizam o
papel do especialista. Desta forma, algumas instituições de atendimento
terciário e relevantes no tratamento do câncer de mama no Brasil tem
apresentado um movimento progressivo de exclusão do cirurgião plástico do
atendimento multi-disciplinar. Dados recentes provindos de alguns centros
demonstram de maneira clara a maior resistência a participação de colegas
cirurgiões plásticos em modelos de atendimento previamente estabelecidos nestes
departamentos e a atuação única do mastologista como cirurgião oncológico e
reparador. No cenário destes centros, a situação torna-se mais temerária uma
vez que residentes de serviços credenciados da SBCP, realizam sua
complementação de formação em reconstrução mamária em outros serviços, com as
devidas limitações e custos adicionais.
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Sessão plenária do CFM, com exposição do Dr. Alexandre Mendonça Munhoz |
Em função dos argumentos acima, foi exposto aos conselheiros do CFM de
maneira contundente que o cirurgião reconstrutor de mama deve ter o
conhecimento oncológico para realizar a cirurgia terapêutica e reconstrutora,
favorecendo desta forma o amplo entendimento das diversas afecções e sua
complexidade no âmbito da cura e da reabilitação. Ademais, a SBCP tem como
objetivos já claramente expostos, inclusive em reuniões já realizadas com a
SBM, estabelecer propostas de trabalho baseadas em princípios éticos e de
boa conduta de convivência e que enfocam áreas objetivas para beneficiar ambas
especialidades pertinentes e já co-existente em diversos centros formadores de
cirurgiões reconstrutores e Hospitais de Câncer no Brasil. Ademais, a SBCP
entende que um trabalho conjunto, envolvendo a Cirurgia Plástica e a Mastologia
e diversos centros com programas oficiais em mastologia e cirurgia plástica e,
sobretudo alicerçada em ações coordenadas por uma comissão mista, permitirá a
médio e longo prazo um novo e cenário de atuação para futuros cirurgiões
terapêuticos e reconstrutores de mama provenientes das suas especialidades aqui
envolvidas.
Neste sentido e frente ao exposto colocamos de maneira clara e
inequívoca a proposta da SBCP para a SBM com intuito de aprimorar de maneira
sólida o cirurgião reconstrutor baseado em quatro (4) condutas ou pontos a
serem adotados por ambas especialidades :
I. Elaboração de um modelo de “aprimoramento” em cirurgia
reconstrutiva oncológica da mama para mastologistas, e cirurgia terapêutica
oncológica mamária após a residência, com duração mínima de um ano e 1920 horas
de treinamento.
II.Definição do conteúdo programático e locais de ensino com
capacidade multidisciplinar dos modelos de “aprimoramento” com definição
objetiva de ensino em cirurgia reparadora e terapêutica oncológica para formação
de profissionais provenientes das duas especialidades envolvidas.
III. Acesso do profissional que realizou o “aprimoramento” ou
“fellow” a eventos de ambas especialidades com objetivo de atualização
continuada.
IV. Exclusão nos modelos de aprimoramento e conteúdo programático,
as cirurgias com natureza estética clara, quais sejam as mastoplastias de
aumento estéticas em situações de hipomastias e assimetrias, as mastopexias em
situações de ptose mamária e assimetrias e mamoplastias redutoras em situações
de hipertrofia mamária.
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